As razões por que gostamos dos vinhos que gostamos são a soma de factores fisiológicos como o número de papilas gustativas que temos e factores psicológicos como o nosso nível de aprendizagem ou as nossas experiências (posso adorar o cheiro a pêssego porque me lembra o quintal da minha avó, ou odiar o cheiro a pêssego porque me lembra que tinha que ir trabalhar com a minha avó em vez de jogar à bola).
Vinhos que gostamos =
factores fisiológicos + factores psicológicos
Por isso mesmo, há tantos perfis de provadores quantas pessoas no mundo. Nos Wine Games ajudamos a que comecem a descobrir o vosso perfil de provador, a ganharem consciência do que gostam (no vinho e não só!). Este é um dos exercícios que fazemos:
➡️Cada participante tem uma tira de papel embebida em PTC (feniltiocarbamida), um composto amargo, que coloca na língua. Para os chamados super-provadores, o amargo é insuportável, os provadores médios sentem-no mas não os incomoda, e os não-provadores não o sentem.
Há autores que defendem que o super-provador, que sentirá os estímulos de forma mais intensa que o não-provador, terá mais papilas gustativas, mas outros autores há que defendem que ainda não se conseguiu confirmar essa correlação.
SUPER-PROVADORES
Aos super-provadores tudo lhes saberá de forma intensa: o salgado, o doce, o amargo, o ácido. Terão mais papilas gustativas, por isso é fácil perceber que receberão mensagens mais fortes do que as pessoas com menos papilas. Odeiam vegetais amargos como a couve de bruxelas, bebidas como cervejas IPA (um tipo de cerveja muito amargo) ou tintos com muitos taninos e muito encorpados. Tendem a preferir comidas insossas em vez de comidas fortes e gordurosas, e podem ser esquisitos a comer, mas segundo um estudo da Universidade de Yale, têm muito menos probabilidade ser obesos que os não-provadores.
PROVADORES
Os provadores gostam de vegetais amargos e provavelmente também gostam de comidas terrosas e salgadas. Cerca de 50% das pessoas cabe nesta categoria. Os provadores também sentem o amargo como os super-provadores, mas não lhes incomoda tanto. Por causa disto, não têm receio de provar qualquer coisa, estão disponíveis para vinhos e comidas diferentes, e com algumas ferramentas podem ser melhores provadores.
NÃO-PROVADORES
Aquela taça de comida tailandesa picante não os faz choramingar de dor, e adoram vinhos altamente tânicos. Tendem a gostar de comidas ricas, picantes e com sabores fortes. Não sentem o amargo da mesma forma que as outras pessoas. De facto, alguns não-provadores não sentem o amargo de todo.
As nossas sensibilidades sensoriais vão além da comida e do vinho
Existem outros factores fisiológicos que influenciam o nosso perfil de provadores. Não é apenas a nossa sensibilidade ao amargo. Há quem defenda que o facto de sermos sensíveis ao amargo não significa que sejamos mais sensíveis à doçura, por exemplo, mas outros há que defendem que quem sente o amargo de forma intensa, sentir-se-ão muito mais incomodados com as etiquetas da roupa, por exemplo, do que aqueles que sentem os estímulos de forma mais fraca. Estes, os não-provadores, muito provavelmente sairão à rua de t-shirt mesmo quando está um frio de rachar, ouvem música aos altos berros, gostam de pickles ou até de beber a água dos pickles.
O que parece ser defendido de forma consensual é que, independentemente do tipo de provador que somos, todos precisamos de ferramentas de prova: de as conhecer e de as treinar. Provar vinho, o acto de conscientemente ver, cheirar, saborear e pensar o vinho, é a melhor parte de apreciar vinho. Com o passar do tempo, tornou-se um acto intimidante pela enorme quantidade de conceitos complexos, mas não precisa de ser assim, pelo que voltaremos brevemente com dicas para treinarem todas as etapas da prova de vinho.
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