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Os prós e os contras da selecção massal e da selecção clonal

Atualizado: 13 de jul. de 2020

Ainda na ressaca da quarentena, com algumas lides na viticultura caseira de família, pus-me a pensar no quão redutor é olharmos as videiras apenas como um elemento único onde se enxerta a vara num pé americano para termos a casta que queremos. Analisando a frio, será essa a dedução correcta, Contudo, é muito mais do que isso. Há dois tipos de selecção aquando da plantação de uma vinha: a clonal e a massal. A selecção clonal tem vindo a enraizar-se devido aos regulamentos impostos pela União Europeia, que proíbem a mergulhia, com o objectivo principal de acautelar a proliferação de doenças e nematóides. O processo consiste em retirar uma vara de uma videira-mãe (como se faz quando se quer plantar uma roseira nova usando uma vara de uma roseira existente, por exemplo), para propagação de novas videiras na vinha de um viveirista. Esta selecção também ajuda o produtor a salvaguardar-se das carências do solo, das comuns intempéries da sua região (ou zona), e consegue-se uma maturação muito mais homogénea, um maior controlo de quantidade e um maior reforço de leveduras indígenas na planta.


Claro que isto pode ser um “pau de dois bicos”, pois se o clone escolhido não for o correcto, o risco de se perder uma parcela ou uma vinha inteira é enorme. Além disso, o grande senão da escolha clonal, visto que há uma uniformização das videiras por se manterem as características da videira-mãe, prende-se com o facto de os vinhos perderem identidade, tornarem-se planos, sem amplitude, análogos a tantos outros, e muitas vezes até aborrecidos. Então deparamo-nos com algo que se foi perdendo ao longo dos tempos, e que era a forma única de proliferar a videira numa vinha: a selecção massal. Tal como o nome indica, significa plantar em massa na mesma vinha ou replantar em vinha vizinha, através de mergulhia ou estaca. Aqui, é o viticultor ou o produtor que define quais as melhores plantas que tem na sua vinha, e em busca de uma maior complexidade tanto no latifúndio como no copo, usa essa planta para replantar videiras perdidas (mortas), ou para aumentar a área de vinha. Com esta selecção mantém-se a tipificação de uma vinha. Isto é comum em vinhas velhas que existem em algumas das regiões clássicas, que ao serem plantadas com estacas da mesma planta-mãe criaram um pouco de heterogeneidade, mas também muita tipicidade. O senão, neste caso, é a probabilidade de aumento de doenças e falhas (plantas que não vingam) ou perdas de produção. Penso que para concluir, e visto que a minha função como escanção, mais do que saber como a videira deve seguir o seu curso, é analisar o resultado final, faço as seguintes perguntas: Será que o resultado final é assim tão gritante em prova? Será que qualquer um de nós distingue num copo, se o sumo foi escorrido de videiras plantadas por selecção clonal ou massal? A minha resposta é que na maioria não. Contudo, algumas das castas esquecidas e que se iriam mantendo vivas devido à seleccão massal poderão perder-se, e vinhos monovarietais como os da Real Companhia Velha, por exemplo, vão provavelmente deixar de aparecer. E quiçá, no futuro, a selecção clonal redefinirá um novo perfil para cada uma das regiões, quando na verdade o que queremos, é que um grande vinho continue a ser uma expressão de terroir e um reflexo da sua história. António Lopesé um dos mais prestigiados escanções da actualidade, e que recebeu, entre outras, a distinção “Sommelier do Ano” pela Revista Wine em 2014.

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